sexta-feira, 24 de setembro de 2010

A IMPRENSA E OS PELEGOS – DEUS PROTEJA OS JORNALISTAS

Nunca tive notícias de um sindicato que represente tão mal uma classe, como o sindicato dos jornalistas de São Paulo, sobretudo agora nesses tempos que os sindicatos viraram um braço quase armado do partido. Não é à toa que o vemos no epicentro de um movimento que, se desse certo, poderia significar o fim de seus filiados.

Felizmente o Estado mais rico do país tem também as mentes mais ricas e está dando provas de que não se curva a esses movimentos undergraund que tentam solapar aquilo que Tancredo Neves chamava de “quarto poder”. Sem o quarto poder qualquer democracia sucumbe.
Que os poderosos de plantão tenham lá seus receios de uma imprensa livre se explica. Para eles a mordaça seria o melhor acessório que os inimigos poderiam utilizar. Mas quando se vê o sindicato dos jornalistas se manifestando contra a imprensa livre, está-se a um passo da venezualização de um país.

Quero crer que esse sindicato tenha poucos filiados e mesmo os filiados, espero que em sua maioria, sejam contra uma estupidez dessas, que mais parece uma piada pronta. Ou seja, quero crer que o apoio ao movimento contra a imprensa livre tenha sido tomada por conta e risco da diretoria do sindicato ao arrepio da concordância de seu filiados.

Aliás, isso para mim não é nenhuma novidade. Esse sindicato, tal qual a maioria dos sindicatos brasileiros, nunca representou o pensamento da categoria que tenta agrupar. Quando, no final do regime militar, os sindicatos começaram a ter atuação mais forte na vida do país, lembro-me que o sindicato dos jornalistas de São Paulo decretou uma greve da categoria. Como sabemos, São Paulo abriga a sede da metade dos maiores jornais do Brasil. Na época eu morava em São Paulo e assinava o Estadão. Saí para o trabalho, passei na portaria do prédio, peguei o jornal e, enquanto esperava um ou outro semáforo passei os olhos pela capa do Estadão e fiquei sabendo que os jornalistas estavam em greve. Ou seja, fiquei sabendo da greve dos jornalistas pelo jornal. Ou os donos dos jornais fizeram o jornal naquele dia ou a greve não era assim muito séria. Ficou claro pra mim na ocasião que a greve não teve a adesão dos filiados e greve sem adesão é greve contra a categoria.

Naqueles tempos, áureos por sinal, de Audálio Dantas e companhia, esse sindicato já tomava medidas que iam de encontro à categoria. Agora eles se superaram. Em nome da defesa do indefensável pensamento de um partido que tenta tomar de assalto as instituições brasileiras, toma posição que não é simplesmente contra a categoria. Apoiar esse movimento esdrúxulo patrocinado pelos petralhas é o mesmo que acabar com a categoria. A prosperar essa insensatez de censurar a imprensa, o jornalismo brasileiro se acaba.

São exagerados esses sentimentos que temos de que o pessoal quer acabar com a imprensa? A resposta é NÃO. Para esse pessoal, qualquer coisa diferente de unanimidade a favor é impensável. Muitos veículos e outros tantos jornalistas já perceberam isso e se colocaram de cócoras diante deles. Infelizmente trata-se da maioria no Brasil, com a aquiescência dos sindicatos da categoria. Para esses, a classe à qual pertencem deixa de existir, pois o que importa é agradar aqueles que os querem aniquilados. Para esses que estão de cócoras e dentro em breve serão capachos, devemos dar-lhes o tratamento que merecem: o desprezo.

Mas temos que criar uma trincheira para defender aqueles que ainda acreditam na profissão de jornalista como parte de uma instituição imprescindível para o pleno exercício da democracia. Por isso, junto com o movimento pela democracia, que vários intelectuais subscrevem, devemos também lançar um movimento que defenda os jornalistas de seus próprios sindicatos. É isso mesmo. Proteger os jornalistas, pelo menos aqueles que ainda merecem ser chamados assim, dos males que seus próprios sindicatos poderão lhes causar. Protegendo-os estaremos nos resguardando desse avanço desenfreado que os petralhas fazem em direção da cubanização do nosso país.

É o mínimo que podemos fazer para salvar a democracia que nos é tão cara.

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